2017 é uma data especial para a Igreja Luterana, que marca os 500 anos de sua existência no mundo e os 200 de sua presença no Brasil. São 500 anos de uma história nascida da fé, ousadia, coragem e determinação do jovem monge agostiniano, Martinho Lutero, que em 31 de outubro de 1517 fixou 95 teses na porta da igreja de Wittenberg, Alemanha, chamando a igreja da época ao debate, sobre os erros que estavam sendo ensinados em seu meio.
Esse dia passou a ser conhecido como o Dia da Reforma Protestante. Especialmente é também conhecido como o dia do nascimento da Igreja Luterana. Como organização dentro do cristianismo, a Igreja Luterana pode ser considerada a primeira “igreja evangélica” no mundo, pelo uso e ênfase que fez do termo nos seus documentos confessionais, no sentido de destacar Cristo como o centro de sua teologia. No Brasil, ela se configura entre as quatro primeiras igrejas evangélicas a se estabelecer. Trezentos anos depois da Reforma, a partir de 1817, ela chegou ao país com a vinda dos imigrantes alemães (PRIEN, 2001, p 27). Além de muita esperança, trouxeram em suas malas também uma Bíblia e, com certeza muitos deles, o Catecismo Menor de Lutero. No meio destes imigrantes se formou a Igreja Luterana no Brasil. Esse luteranismo incipiente, que nascia com a chegada dos imigrantes, tornou-se a base para o nascimento da IECLB, das Congregações Independentes e da IELB, como fruto de missão da igreja luterana americana. Mas, curiosamente, mesmo com toda essa presença histórica do luteranismo e sua caminhada em solo brasileiro é comum ouvir perguntas do tipo:
- “Igreja Luterana, o que é”?
- “É uma seita nova”?
- “É a igreja dos alemães”?
- “Mas, o que ela ensina mesmo”?
Ao propor uma apresentação do Luteranismo Brasileiro, estas perguntas são algumas das razões pelas quais orientamos o pensamento e direcionamos nosso esforço sobre aqueles fatos e experiências que são mais relevantes para definir o jeito de ser da Igreja luterana, desconhecida de alguns, mas amada por muitos, em todo o mundo.
Entenda-se, portanto, que o livro é o resultado de um projeto de pesquisa em busca de respostas para essas perguntas que desafiam a compreensão da identidade luterana no Brasil, a partir de informações sobre os fatores sociais, políticos, econômicos e eclesiásticos que interagiram na formação e desenvolvimento dessa igreja e a transformou no modelo em que se encontra hoje. Nessa busca, priorizamos bons autores luteranos, bem como material publicado em periódicos, revistas e informações por questionário em e-mail. Foi assim que surgiu “Luteranismo Brasileiro - Origens, Condicionantes e Perspectivas”, que agora apresentamos para sua apreciação.
Essencialmente a obra é um livro de história, mas não de uma história analisada sob a ótica de um “historiador” e, sim, sob a ótica pastoral e ética do autor. Igualmente não é um livro exaustivo, que pretende esgotar o assunto. Foi pensado de forma resumida, porem consistente, tanto para quem já conhece ou não o luteranismo. Seu objetivo principal é fazer um exercício de retroação histórica, no desenvolvimento do luteranismo brasileiro, como sendo uma base necessária para se compreender o presente e se pensar o seu desenvolvimento futuro.
Mas o livro envolve bem mais do que respostas a perguntas corriqueiras, pois também traz uma proposta implícita, no sentido de incentivar a valorização e o resgate de uma caminhada fraterna para as igrejas luteranas no Brasil. Essa caminhada fraterna não é uma simples discussão ecumênica, em seu sentido lato, abrangente, da qual eu decido se quero ou não participar. Ela reflete o desejo do próprio Deus, claramente revelado em João 17 e aceito pelas próprias igrejas luteranas no Brasil, que nos últimos anos vem transformando essa caminhada em proposta concreta, através da Comissão de Dialogo Inter confessional Luterano – CIL. Este anseio por um relacionamento fraterno dentro do luteranismo também é compartilhado pelo autor, que conhece um pouco a realidade de cada um dos modelos da igreja luterana, seja através do desenvolvimento de atividades enquanto exerceu o pastorado, ou no engajamento da própria fé, como membro leigo.
Lauro Schneider
Especialista em Teologia
Barra de São Francisco – ES
Janeiro de 2015.
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